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segunda-feira, 26 de março de 2012

O futuro náutico


O futuro náutico

23.mar.2012 - O arquiteto e designer de barcos Luiz de Basto criou, em mais de 15 anos de atividades, modelos de médio a grande porte para estaleiros de diversas partes do mundo, consolidando-se como um dos mais respeitados profissionais da área.
Com escritório em Miami, tem em seu currículo barcos como o Oceanco DP009, um megaiate de 90 metros; o barco conceito Aston Martin Voyage 55’, um exercício criativo de alta performance inspirado nas linhas dos esportivos Vantage, Rapide, DBS e Virage da marca inglesa; e os novos modelos da Intermarine, entre eles, a Nova 85, Nova 75, Nova 65 e a Nova 42.
Em entrevista à Revista Marinas Nacionais, Luiz de Basto aponta tendências para o mercado náutico, como projetos personalizados de acordo com as características dos mercados consumidores ao redor do mundo.

O que você considera que será tendência em um futuro próximo?  
Vejo uma tendência a uma diversidade de abordagens em resposta a uma contínua demanda por barcos mais personalizados. Acho que o barco genérico, produzido em série, terá ainda um futuro longo, mas vejo cada vez mais aparecerem designs que são mais corretamente definidos como pertencentes a um nicho.

Você vislumbra usos diferentes para o barco em relação aos dias atuais? 
Certamente, e isso já está acontecendo na medida em que compradores em países emergentes começam a descobrir a náutica. Em alguns países como a China, o barco é totalmente associado com status social. São usados para festas e recepções sem nunca sair da marina e é comum haver barcos sem motores, porque realmente não vão a lugar nenhum. Por outro lado têm interiores elaborados.
No Brasil, as pessoas que se interessam por um barco são famílias que se dedicam a atividades físicas, esportivas e sociais intensas, que gostam de vida ao ar livre e aproveitam o clima com bastante sol. Além disso, é um povo gregário, ninguém gosta de andar sozinho e todas essas características definem o design do barco brasileiro. Por essa razão é inexplicável que se vendam aqui barcos desenhados em outros países, adequados ao clima frio e que têm, por exemplo, mais aquecimento do que ar condicionado e mais espaço interno do que externo.

E as tecnologias verdes? De que forma podem contribuir para um menor impacto? 
Avanço tecnológico é como um processo de seleção natural no qual ideias que não estão funcionando mais são substituídas por ideias que estão funcionando. É o que vai suceder com as novas tecnologias verdes, que no momento ainda não estão prontas. O iate ecológico ainda é uma quimera, animal composto de várias procedências. Mas algumas propulsões híbridas já estão disponíveis para barcos. Também está aumentado o uso da teca artificial que tem a vantagem de não ser feita de uma árvore, portanto pode-se desenhar conveses com curvas e desenhos variados ao invés de longas estrias.

Como você constrói seus conceitos?
Começo cada projeto pedindo ao cliente, seja individual ou estaleiro, para me dar por escrito os requerimentos e objetivos a serem alcançados. Ao contrário do que muita gente imagina, parâmetros são necessários quando chega a hora de soltar a imaginação. Se não for assim, tudo o que se cria não passa de utopia. Quanto mais se sabe a respeito dos objetivos do projeto, melhor e mais chances de ser criativo.
Nesse processo criativo em que tudo o que se cria é bom por definição (lembrar que a crítica está momentaneamente suspensa) é quando as melhores ideias surgem. Claro que não surgem resolvidas, mas se for possível controlar a ansiedade e deixar a solução para depois, ou até mesmo para ser resolvida junto com outros que sejam detalhistas, é possível que a ideia meio resolvida se afirme e ganhe vida. 
É assim que se constroem conceitos, em cima da opinião dos proprietários e usando os avanços tecnológicos que já são do seu próprio conhecimento. Como dizia Leonardo, o da Vinci, ninguém consegue desenhar aquilo que não conhece.

Quais são os limites que você encontra no desenvolvimento? 
O mundo náutico, apesar de não parecer, é extremamente conservador. Isso se deve ao fato de que uma lancha é um investimento considerável e o comprador tem que pensar no futuro valor de revenda. Um barco muito exótico pode parecer interessante à primeira vista mas, quando se pensa na dificuldade em achar um comprador na hora da revenda, muita gente decide pelo que é geralmente aceito. Por isso os avanços são lentos.
Isso também se aplica para as limitações construtivas e novos materiais, não somente para um design ousado. A opinião dos estaleiros, em geral, é deixar a experimentação e inovação para os outros e continuar com métodos e procedimentos conhecidos. Se der certo então a novidade é aceita e incorporada. Um exemplo são os balcões rebatíveis ou as janelas nos cascos, hoje comum em quase todos os barcos, mas que vêm de um conjunto de circunstâncias, de uma aceitação de mercado, dos avanços nos materiais como vidro, por exemplo, e das técnicas construtivas, tudo junto.
Por outro lado devo acrescentar que projetei um barco totalmente personalizado para um cliente que não estava interessado no valor de revenda que eventualmente poderia obter. Seu argumento é irrefutável: por que me preocupar com o próximo comprador, quero fazer um barco que agrade a mim, não ao próximo usuário.
Também é importante notar que o estaleiro (ou empresa, ou país) que adota mais rapidamente uma tecnologia inovadora tem uma grande vantagem no mercado.


O conceito Aston Martin Voyage 55’, baseado nas linhas esportivas do tradicional fabricante inglês de carros


O Oceanco DP009 é um megaiate de 90 metros que explora as últimas tecnologias no uso de vidros


A Nova Intermarine 75 é um dos barcos assinados por Luiz de Basto para a Intermarine